Prof.Dr.Luis Carlos Figueira de Carvalho

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TABAGISMO

TABAGISMO

Caso Clínico    ACESSE O TEXTO ORIGINAL AQUI

Versão original publicada na obra Fochesatto Filho L, Barros E. Medicina Interna na Prática Clínica. Porto Alegre: Artmed; 2013.

 

Um paciente do sexo masculino, 40 anos, tabagista desde os 20 anos, fumante de cerca de um maço por dia, relata três tentativas prévias para parar de fumar sozinho sem sucesso. Afirma ter voltado a fumar devido aos sintomas apresentados na última tentativa de cessação, como irritabilidade, ansiedade, agressividade e impaciência. No momento, refere muita motivação para cessar o hábito, visto que seu irmão faleceu recentemente de câncer de pulmão. Relata que fuma o primeiro cigarro imediatamente após acordar e que, com frequência, acorda no meio da noite para fumar. O paciente diz que fuma mais pela manhã, o primeiro cigarro do dia causa muita satisfação, tem dificuldade de ficar sem fumar em lugares proibidos e fuma mesmo doente. O exame físico é normal, exceto pelo cheiro de cigarro e pela coloração amarelada da unha do dedo indicador da mão direita. O paciente comparece à consulta procurando ajuda para cessar o tabagismo

Denise Rossato Silva - Médica pneumologista. Professora adjunta de Pneumologia da Faculdade de Medicina da UFRGS. Doutora em Ciências Pneumológicas
pela UFRGS.

Marli Maria Knorst - Médica do Serviço de Pneumologia do HCPA. Professora associada do Departamento de Medicina Interna e do Programa de Pós-graduação em Ciências Pneumológicas da UFRGS.

Kátia Rutter Jensen - Médica internista e pneumologista. Especialização em andamento em Oncologia
Torácica na Santa Casa de São Paulo. Mestranda em Ciências Pneumológicas da UFRGS.

 

Definição

O tabagismo é um comportamento complexo influenciado por diversos fatores, como ambientais, hábitos pessoais, condicionamentos psicossociais e ações biológicas da nicotina. Somente em 1988 o Ministério da Saúde americano declarou o tabagismo como uma forma de dependência.

 

Epidemiologia

A nicotina é o principal componente psicoativo do tabaco e o responsável pelo seu alto grau de dependência. Estima-se que 75% dos adolescentes experimentem o cigarro e cerca de 20 a 30% tornem-se dependentes.1,2

O tabagismo é a principal causa evitável de morbidade e morte prematura no mundo. É o principal fator associado à diminuição da expectativa de vida entre ricos e pobres. Entre os homens, o tabagismo é responsável por mais de metade do risco de morte prematura. Atualmente, 5 milhões de pessoas morrem no mundo em consequência das doenças causadas pelo cigarro.Tem-se observado uma lenta redução da prevalência de tabagismo em homens e um aumento em mulheres e adolescentes.1,2

Diversas doenças são causadas pelo tabagismo, incluindo cânceres, doenças respiratórias, cardiovasculares, úlceras gástricas e duodenais, disfunção erétil, infertilidade, osteoporose, catarata, degeneração macular relacionada à idade e periodontite. Mulheres que fumam durante a gravidez apresentam um risco significativamente maior de aborto espontâneo e de nascimento de bebês com baixo peso.1,2

O tabagismo passivo pode agravar sintomas respiratórios e desencadear crise asmática e, a longo prazo, elevar o risco de câncer de pulmão, doenças respiratórias (especialmente asma), doenças cardíacas e acidente vascular cerebral.1,2

Apesar das drásticas consequências do consumo de tabaco, o sistema de saúde e os médicos muitas vezes negligenciam-nos. Já se sabe que até mesmo pequenas intervenções podem ser eficazes para abandono do hábito de fumar, mas a muitos médicos falta conhecimento sobre um modo de identificar fumantes rápida e facilmente, e sobre os tratamentos eficazes e disponíveis e sua realização.1,2

 

Qual é a composição química do cigarro?

O tabaco contém uma mistura complexa de componentes químicos: hidrocarbonetos, fenóis, ácidos graxos, isopropenos, ésteres e minerais inorgânicos. A fumaça do cigarro é uma mistura heterogênea de gases, vapores e partículas líquidas. A fumaça é separada em fase particulada e fase gasosa. O alcatrão contém toda a fase particulada da fumaça, bem como os componentes condensáveis da fase gasosa. Cerca de 5 mil componentes foram identificados nas fases gasosa e particulada da fumaça.1,2

 

Sinais e Sintomas

O consumo inicial irregular em geral não acarreta sintomas de abstinência, porém, com a continuidade do uso, a nicotina causa uma sensação de prazer. Os principais motivos que levam a esse uso continuado incluem tentativa de escape de sintomas de abstinência, mudanças no sistema nervoso central (SNC), desencadeando reforço positivo (ou seja, prazer com o uso), e a crença de que o consumo da droga produz outros efeitos como, por exemplo, relaxar.1,2

Os fenômenos envolvidos na adição tabágica são complexos e envolvem vários neurotransmissores. A nicotina age principalmente em receptores anticolinérgicos, distribuídos em todo o SNC. Sua administração continuada eleva a densidade desses receptores em até 300%. Algumas regiões envolvidas são a área ventral tegumentar, os neurônios dopaminérgicos e suas conexões com o núcleo accumbens e o córtex pré-frontal.Nessas áreas, causa uma liberação de vários neurotrasmissores, como dopamina, norepinefrina, acetilcolina, vasopressina, serotonina, betaendorfina, glutamato e GABA, que geram os efeitos compensatórios da nicotina (Tab. 112.1).1,2

 

Diagnóstico

Os critérios diagnósticos da dependência de nicotina foram estabelecidos pelo DSM-IV e CID-10 (Quadro 112.1).1,2

A medida quantitativa mais utilizada para avaliar o grau de dependência de nicotina é o teste de Fagerström (Quadro 112.2). Quanto maior o escore obtido, maior é o grau de dependência, sendo os fumantes com escore maior ou igual a sete os mais dependentes. Os métodos biológicos para avaliar o grau de dependência são mais objetivos. A medida da cotinina plasmática, salivar ou urinária possibilita saber o grau de consumo e está associada de forma significativa ao resultado do teste de Fagerström. Entretanto, esse teste é pouco disponível, devido ao seu custo elevado e à necessidade de equipamento especial. A medida da concentração de monóxido de carbono no ar exalado por meio do monoxímetro proporciona avaliação do grau de intoxicação nas últimas horas, mas apresenta menos acurácia do que a cotinina, embora seja um exame mais barato.1,2

 

 

 

 

 

 

Tratamento

Abordagemdo fumante cognitivo-comportamental

O tabagismo é uma doença crônicaTodo médico deve saber sobre a história de tabagismo de seus pacientes, aconselhá-los e estimulá-los a abandonar o tabagismo. A forma de abordagem deve ser individualizada e varia de acordo com a fase em que o paciente está no processo de cessação (Prochaska e DiClemente):1-7

Pré-contemplação: o fumante nega a intenção de parar de fumar nos próximos seis meses.

Contemplação: o paciente diz que gostaria de estar sem fumar nos próximos seis meses.

Preparação para ação: o fumante passa a tomar atitudes para parar de fumar.

Ação: período no qual o fumante entra em abstinência.

Manutenção: processo de adaptação comportamental, mudança nos hábitos de vida, no qual o paciente mantém a abstinência tabágica.

Recaída: o paciente em abstinência volta a fumar.

 

A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode ser realizada individualmente ou em grupo. No Brasil, o Ministério da Saúde recomenda, nas instituições públicas, a utilização de TCC em grupo de 10 a 12 pacientes, com utilização simultânea de medicamentos para controlar os sintomas de abstinência quando necessário. São previstos quatro encontros semanais, dois encontros quinzenais e, uma vez que o paciente consiga ficar sem fumar, uma reunião mensal de manutenção ao longo de um ano. Paralelamente, a equipe de saúde efetua o acompanhamento (médico, enfermeiro e, quando necessário, psicólogo, psiquiatra, nutricionista, etc.). Deve-se estimular o apoio social como parte do tratamento.

A abordagem básica constitui-se em 5 etapas: perguntar, avaliar, aconselhar, preparar e acompanhar.1-7

 

Perguntar. O médico deve incluir, na anamnese, a investigação sobre o tabagismo, quantificando o índice tabágico, tempo até o primeiro cigarro do dia, motivação para cessar o hábito, tentativas prévias e convívio com fumantes. O índice tabágico em maços-ano possibilita uma estimativa da carga tabágica total e é calculado multiplicando-se o número de maços fumados ao dia (cada maço contém 20 cigarros) pelo número de anos que o indivíduo fumou.

 

Avaliar. Demonstrar interesse pela situação tabágica do paciente, registrando-a no prontuário e avaliando o grau de dependência da nicotina, bem como causas de insucesso nas tentativas prévias.

 

Aconselhar. Aconselhar todo fumante a parar de fumar, alertando-o sobre os sinais e os sintomas da síndrome de abstinência.

 

Preparar. Estimular o fumante a marcar uma data para parar de fumar e elaborar um plano de ação com estratégias para resistir à fissura. Familiares e amigos do fumante devem ser estimulados a ajudá-lo. Pode-se decidir pela parada abrupta ou pela parada gradual, por redução do número de cigarros ou por adiamento do primeiro cigarro do dia. A parada abrupta, com controle medicamentoso dos sintomas de abstinência quando indicado, parece apresentar melhores resultados.

 

Acompanhar. Avaliar as dificuldades do ex-fumante. Deve-se estimulá-lo a falar sobre os benefícios da cessação. Lapsos (tragadas esporádicas) podem ocorrer e estão associados a recaída. Esta deve ser aceita sem críticas, tentando-se identificar os fatores relacionados. O paciente deve ser estimulado a fazer novas tentativas.

 

Promovendo a motivação para parar de fumar

Os pacientes podem não estar dispostos a tentar parar de fumar por diversas razões. Entre elas estão a falta de informação sobre os efeitos nocivos do tabaco, a não percepção de como esses efeitos são relevantes para sua saúde pessoal, a falta de recursos financeiros para o tratamento medicamentoso e o receio ou a desmotivação por fracassos em tentativas prévias. O paciente pode, no entanto, responder a uma intervenção motivacional que proporciona uma oportunidade para o clínico educá-lo e tranquilizá-lo por meio dos cinco Rs seguintes: relevância, riscos, recompensas, bloqueios (roadblocks) e repetição, sendo mais provável a eficácia quando o clínico é empático e promove a autonomia do paciente, evita argumentos e apoia sua autoeficácia.1-7

 

Relevância. Incentivar o paciente a refletir sobre por que parar de fumar é pessoalmente relevante, sendo o mais específico possível. Há mais impacto quando é envolvida uma situação familiar ou social.1-7

 

Riscos. O clínico deve pedir ao paciente para identificar potenciais consequências negativas do uso do tabaco, pode sugerir e destacar as que parecem ser as mais relevantes para o doente, devendo enfatizar que cigarros de baixo teor de alcatrão ou nicotina ou a utilização de outras formas de tabaco (p. ex., charutos e cachimbos) não eliminam esses riscos. Alguns exemplos de riscos são:

  • Riscos agudos: falta de ar, exacerbação da asma, danos à gravidez, impotência, infertilidade, aumento de monóxido de carbono.
  • Riscos a longo prazo: ataques cardíacos e acidentes vasculares cerebrais, câncer de pulmão e outros (laringe, cavidade oral, faringe, esôfago, pâncreas, rins, bexiga e útero), doença pulmonar obstrutiva crônica (enfisema e bronquite crônica) e fibrose pulmonar.
  • Riscos para terceiros: risco aumentado de câncer de pulmão e doenças cardíacas para o cônjuge, maior número de crianças fumantes no futuro, aumento do risco de baixo peso ao nascer.1-7

 

Recompensas. Pedir ao paciente para identificar potenciais benefícios de parar de fumar, sugerindo e destacando os que parecem ser mais relevantes. Alguns exemplos de recompensas são melhora da saúde, do sabor dos alimentos, do olfato; economia de dinheiro; bem-estar; ausência do cheiro do cigarro em roupas, carro e nele mesmo; não se preocupar em expor outras pessoas ao fumo.1-7

 

Bloqueios (roadblocks). O médico deve pedir ao paciente para identificar barreiras ou obstáculos para parar de fumar e valorizar os elementos do tratamento (ou seja, a resolução de problemas, farmacoterapia) que podem auxiliar. Algumas barreiras podem incluir sintomas de privação, medo do fracasso, ganho de peso, falta de apoio, depressão, prazer do tabaco.1-7

 

Repetição. Deve-se repetir a intervenção motivacional a cada momento em que o paciente pareça estar desmotivado durante as visitas ou nas recaídas.1-7

 

Tratamento medicamentoso

Não sendo suficiente somente a abordagem cognitivo-comportamental e principalmente depois de identificado um grau elevado de dependência de nicotina ou sintomas de abstinência em uma tentativa de cessação prévia, recomenda-se a associação de terapia farmacológica, se não houver contraindicação ao uso de medicamentos. As principais indicações são consumo de mais de 10 cigarros/dia; consumo menor, havendo, porém, sintomas de abstinência significativos; consumo do primeiro cigarro do dia antes de 30 minutos após acordar; teste de Fagerström com resultado maior do que 5; insucesso com abordagem comportamental isolada. Antes de prescrever os medicamentos para controle dos sintomas de abstinência, é necessário identificar as preferências do paciente e as potenciais contraindicações para sua utilização. O tratamento medicamentoso tem duração de 8 a 12 semanas.1-7

 

Terapia de reposição de nicotina

A terapia de reposição de nicotina (TRN) auxilia a diminuir a fissura e os sintomas de abstinência, apresentando eficácia em cerca de 30% dos casos. Deve-se iniciar a terapia concomitantemente à cessação do tabagismo. No Brasil, estão disponíveis apresentações de nicotina, como goma de mascar, pastilhas e adesivo cutâneo. Os adesivos apresentam liberação mais lenta, mantendo níveis séricos constantes e devendo ser trocados a cada 24 horas. As doses de apresentação são de 21, 14 e 7 mg, sendo 21 mg a dose máxima diária recomendada, seguida por redução gradual a cada três ou quatro semanas. O uso desses adesivos pode ser complementado com o de dispositivos de liberação rápida para o controle da fissura, como a goma ou as pastilhas, e, em geral, esses dispositivos são bem aceitos pelos pacientes. Podem causar náuseas, taquicardia, alterações irritativas cutâneas e insônia.1-7

As gomas e as pastilhas contêm 2 ou 4 mg de nicotina, e recomenda-se utilizar uma a cada uma ou duas horas, não ultrapassando 20 por dia. Cada goma ou tablete deve ser mascado ou mastigado intermitentemente durante 30 minutos. A absorção ocorre principalmente pela mucosa oral, por isso é importante deixar a goma ou a pastilha parada entre a bochecha e a gengiva. São contraindicadas para pacientes com próteses e doenças periodontais, e os principais efeitos adversos são náuseas, diarreia e salivação excessiva.1-7

 

Bupropiona

O mecanismo de ação da bupropiona é decorrente em parte do bloqueio da recaptação de dopamina, noraepinefrina e serotonina. Em geral é bem tolerada, podendo causar insônia, cefaleia, boca seca, diminuição de reflexos e ansiedade e aumento do risco de crise convulsiva em paciente com história prévia. O índice de abstinência sustentada varia entre 24 e 60% em diversosestudos.1-7

A dose recomendada é de 150 mg ao dia, durante três dias, seguida por 150 mg, duas vezes ao dia (8 h e 16 h), por 7 a 12 semanas, podendo ser estendida por até seis meses se necessário. A segunda dose diária deve ser administrada o mais distante possível do horário de dormir para minimizar o risco de insônia. O dia da cessação é o sétimo após o início do tratamento.1-7

 

Vareniclina

A varenielina é a droga mais recente liberada pelo Food and Drug Administration (FDA) em 2006 para o tratamento do tabagismo. Ela age como agonista parcial do receptor nicotínico, diminuindo a necessidade de consumo da nicotina. Além disso, diminui sintomas de abstinência e o efeito de recompensa. Deve ser utilizada com cautela nos pacientes com algum grau de insuficiência renal, visto que é quase totalmente eliminada pelos rins. Estudos têm observado que esse medicamento é mais eficaz do que a bupropiona ou a reposição de nicotina realizada isoladamente.8

Deve-se iniciar o tratamento uma semana antes da data marcada para a cessação, administrando 0,5 mg, uma vez ao dia, nos três primeiros dias, duas vezes ao dia, do quarto ao sétimo dia, e 1 mg, duas vezes ao dia, após o oitavo dia, sempre após as refeições e durante 12 semanas, podendo ser estendido por até mais 12 semanas. Os efeitos colaterais são náuseas, boca seca, constipação e cefaleia. Recentemente, o FDA alertou quanto ao agravamento de doenças psiquiátricas, havendo aumento do índice de suicídios com o uso da vareniclina. Recomenda-se cautelosa avaliação psiquiátrica antes de sua utilização.8 Outra limitação para a administração da vareniclina é seu alto custo em relação às demais terapias medicamentosas disponíveis.

 

Antidepressivos tricíclicos e clonidina

Esses medicamentos são medicamentos de segunda linha e eficácia intermediária. Pode-se utilizar a nortriptilina caso haja contraindicações à TRN e à bupropiona. Doses progressivas de 25 até 75 mg podem ser administradas, iniciando-se de duas a quatro semanas antes da abstinência. Os efeitos adversos são tonturas, boca seca, sedação e tremores nas mãos. A clonidina é um agonista a-adrenérgico, indicada para atenuar os sintomas de abstinência. Seus principais efeitos colaterais são boca seca, tonturas e fadiga. A dose a ser utilizada é de 0,05 mg por dia, aumentando-se até 0,15 mg por dia.1-7

 

Terapias combinadas

Para os pacientes que não respondem a um tratamento medicamentoso específico, pode-se tentar terapias combinadas de adesivo de nicotina e goma de nicotina ou bupropiona e nicotina.1-7

 

Fatores dificultadores da cessação do tabagismo

Quando a cessação do hábito de fumar ocorre espontaneamente, apenas 3 a 5% dos indivíduos permanecem em abstinência por mais de um ano, e a maioria dos fumantes necessita de várias tentativas para ter sucesso.

Para o paciente que parou de fumar recentemente, os médicos devem promover a prevenção da recaída. Deve-se reforçar o fato de o tabagismo ser uma doença crônica que não tem cura, mas que pode ser controlada. É importante evitar a primeira tragada, uma vez que os lapsos podem causar recaída. Especificamente, o clínico deve ressaltar a decisão de parar, rever os benefícios e ajudar a solucionar quaisquer problemas residuais. Pode-se conseguir isso durante consultas de revisão ou por meio de telefonemas. O convívio com fumantes e o uso de álcool dificultam a cessação. A maioria das recaídas ocorre nas primeiras três semanas. O ex-fumante deve ser elogiado pela abstinência e por recaída evitada.9-14

No contato com um abstêmio recente, perguntas abertas e de reforço, como “Quais vantagens em não fumar você teve hoje?”, devem ser feitas. Do mesmo modo, o médico deve encorajar uma discussão ativa sobre os benefícios da cessação, bem como antecipar problemas em manter a abstinência. Alguns problemas que podem ocorrer são os seguintes:9-14

 

Perda do seguimento. Para evitá-la, devem-se agendar retornos.

 

Perda da motivação. Lembrar o paciente de que os sintomas de abstinência são comuns, recomendar atividades, lembrar que a recaída leva a uma próxima tentativa muito mais difícil.

 

Síndrome de abstinência. É desencadeada pela interrupção do ato de fumar e varia conforme os indivíduos. Apresenta início após algumas horas sem fumar, atinge pico após três dias, manifestando sintomas como ansiedade, irritabilidade, fissura, cefaleia e insônia. Os sintomas podem durar mais de um mês, chegando a anos. O tratamento deve incluir uma mudança nos hábitos de vida, terapia comportamental e, se indicada, terapia medicamentosa.

Um grau de dependência de nicotina caracterizado por um teste de Fagerström de mais de 6 pontos também é considerado um dificultador de cessação do tabagismo. Outros fatores, como sexo feminino, níveis socioeconômicos e educacionais mais baixos, grande número de cigarros fumados, convívio com fumantes e baixa motivação, também dificultam.

 

Transtornos de personalidade e doenças psiquiátricas. Geralmente, o tabagista é mais ansioso e depressivo, além de apresentar história de uso abusivo de álcool ou outras drogas e de doenças psiquiátricas. Uma adequada avaliação psiquiátrica, com controle e tratamento dos sintomas antes do início da cessação tabágica, é recomendada, visto que a falta de nicotina pode causar agravamento e surgimento de doenças psiquiátricas.

 

Ganho de peso corporal. Estudos observam um aumento no peso corporal após a cessação do tabagismo. As teorias mais aceitas são um aumento da taxa metabólica, com maior gasto de energia nos fumantes; diferenças na quantidade e na qualidade dos alimentos ingeridos pelos fumantes e ação anorética da nicotina. Deve-se estimular a realização de atividade física e acompanhamento nutricional.

 

Caso Clínico Comentado

Aplicou-se o teste de Fagerström no caso do paciente, cujo resultado foi de 7 pontos, evidenciando dependência elevada de nicotina. O índice tabágico, calculado multiplicando-se o número de maços de cigarro fumados por dia pelo número de anos em que o paciente fumou, foi de 20 maços-ano. Considerando o alto grau de dependência, o consumo de mais de 10 cigarros/dia e os sintomas significativos de abstinência em tentativas prévias, indicou-se para o paciente a realização de tratamento medicamentoso para minimização dos sintomas de abstinência e terapia cognitivo-comportamental para a cessação tabágica.

 

Referências

  1. Araújo AJ, Menezes AM, Dorea AJ, Torres BS, Viegas CA, Silva CA, et al. Diretrizes para cessação do tabagismo. J Bras Pneumol. 2004;30(Supl2):S1-S76.

2.Reichert J, Araújo AJ, Gonçalves CMC, Godoy I, Chatkin JM, Sales MPU, et al. Diretrizes para cessação do tabagismo - 2008. J Bras Pneumol. 2008;34(10):845-80.

3.Anderson JE, Jorenby DE, Scott WJ, Fiore MC. Treating tobacco use and dependence: an evidence-based clinical practice guideline for tobacco cessation. Chest. 2002;121(3):932-41.

  1. Aveyard P, West R. Managing smoking cessation. BMJ.2007;335(7609):37-41.

5.Brasil. Ministério da Saúde. Instituto Nacional de Câncer. Abordagem e tratamento do fumante: consenso 2001 [Internet]. Rio de Janeiro: INCA; 2001 [capturado em 15 set. 2012]. Disponível em: http://www. inca.gov.br/tabagismo/publicacoes/tratamento_consenso.pdf.

6.Fiore MC, Bailey WC, Cohen SJ, Dorfman SF, Goldstein MG, Gritz ER, et al. Treating tobacco use and dependence. Rockville: U.S. Department of Health and Human Services; 2000.

7.National Institute for Health and Clinical Excellence. Smoking cessation services in primary care, pharmacies, local authorities and workplaces, particularly for manual working groups, pregnant women and hard to reach communities [Internet]. London: NICE; 2008 [capturado em 15 set. 2012]. Disponível em: http://www.nice.org.uk/nicemedia/ pdf/PH010guidance.pdf.

8.Tonstad S, Tønnesen P, Hajek P, Williams KE, Billing CB, Reeves KR. Effect of maintenance therapy with varenicline on smoking cessation: a randomized controlled trial. JAMA. 2006;296(1):64-71.

9.Adams SG, Pugh JA, Kazis LE, Lee S, Anzueto A. Characteristics associated with sustained abstinence from smoking among patients with COPD. Am J Med. 2006;119(5):441-7.

10.Hyland A, Borland R, Li Q, Yong HH, McNeill A, Fong GT, et al.Individual-level predictors of cessation behaviours among participants in the International Tobacco Control (ITC) Four Country Survey. Tob Control. 2006;15 Suppl 3:iii83-94.

11.Hymowitz N, Cummings KM, Hyland A, Lynn VR, Pechacek TF, Hartwell TD. Predictors of smoking cessation in a cohort of adult smokers followed for five years. Tob Control. 1997;6 Suppl 2:S57-62.

12.Hymowitz N, Sexton M, Ockene J, Grandits G. Baseline factors associated with smoking cessation and relapse. Prev Med. 1991;20(5):590-

13.Monsó E, Campbell J, Tønnesen P, Gustavsson G, Morera J. Sociodemographic predictors of success in smoking intervention. Tob Control.2001;10(2):165-9.

14.Osler M, Prescott E. Psychosocial, behavioural, and health determinants of successful smoking cessation: a longitudinal study of Danish adults. Tob Control. 1998;7(3):262-7.

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